A oposição ao fascismo pode ser levada somente pela classe operária

Autor: Antonio Gramsci

Sobre o autor:

Antonio Gramsci foi Secretario Xeral do Partido Comunista Italiano.

Máis información:

A crise da pequena burguesía

Antonio Gramsci (1924)

A crise política produzida pelo assassinato de Matteotti está em pleno desenvolvimento e não se pode todavia dizer qual será seu desenlace final.

Esta crise apresenta aspectos diversos e múltiplos. Assinalamos antes de tudo a luta que se tem reanimado, em torno do governo entre forças adversárias do mundo plutocrático e financeiro, para a conquista por parte de uns e a conservação por parte de outros com influência predominante no governo do Estado. À oligarquia financeira, que se acha na cabeça da banca comercial, se contrapõem as forças que em um tempo se agrupam em torno da fracassada banca de desconto e hoje tendem a reconstruir um organismo financeiro próprio que deveria deslocar a predominante influência da primeira. Sua consigna de ordem é a “constituição de um governo de reconstrução nacional”, com a eliminação do lastro (se entendem os patrocinadores da atual política financeira). Trata-se em substância de um grupo de aproveitadores não menos nefastos que os outros, que por baixo da máscara de indignação pelo assassinato de Matteotti e em nome da “justiça”, passam para a abordagem dos cofres do Estado. O momento é bom, e naturalmente não há que deixá-lo escapar.

Sob ponto de vista da classe operária, o fato mais importante é, contudo, outro e precisamente é enorme a repercussão que os acontecimentos destes dias tem nas classes médias e pequeno-burguesas: se precipita a crise da pequena burguesia.

Se se tem em conta a origem e a natureza social do fascismo, se compreenderá a importância enorme deste elemento que vem a rachar as bases da dominação fascista. Este imprevisto e radical deslocamento da opinião pública, polarizando-se em torno dos partidos da chamada “oposição constitucional”, põe estes partidos na primeira fila da luta política: devem dar-se conta, como algumas camadas da mesma classe operária, da necessidade e das condições que tal luta impõe.

No campo operário não tem faltado a imediata repercussão deste deslocamento de força: o proletariado tem hoje a sensação de já não estar isolado na luta contra o fascismo, e isto, unido ao imutável espírito antifascista que o anima, determina em seu ânimo a convicção de que a ditadura fascista poderá ser abatida, e dentro de um período de tempo bem mais curto do que se havia pensado no passado. O fato de que a revolta moral de toda a população contra o fascismo na classe operária se tem manifestado com paralisações parciais, como forma enérgica da luta; o ter sentido a necessidade e ter considerado possível sob certas condições a greve nacional contra o fascismo, demonstra que a situação vai mudando com uma rapidez imprevista. Quem tenha dúvidas a este propósito, que vá com os operários e verá como são acolhidos os melancólicos comunicados da Confederação Geral do Trabalho implorando a calma, aos que define como “elementos irresponsáveis” e “agentes provocadores”, quando fazem propaganda para ação: estamos habituados a ler esta linguagem nos comunicados policiais.

Da atitude e da conduta dos diversos partidos dispostos hoje na frente da luta antifascista se pode em seguida fazer uma primeira afirmação: a impotência da oposição constitucional. Estes partidos, no passado, com a oposição ao fascismo tendiam evidentemente a atrair para si a pequena burguesia que, vivendo à margem da plutocracia dominante, padecem em parte as conseqüências de seu predomínio absoluto e esmagador na vida econômica e financeira do país. Aqueles tendem para sistemas menos ditatoriais de governo. Estes partidos podem hoje dizer que têm alcançado seu objetivo, que constitui para eles a premissa para conduzir seriamente a luta contra o fascismo. Sua ação, contudo, que na situação atual deveria ter um valor decisivo, se mostra incerta, equívoca e insuficiente. Reflete em sua substância a impotência da pequena burguesia para enfrentar por si só a luta contra o fascismo, impotência determinada por um complexo de razões, das quais deriva também a atitude característica destas camadas eternamente oscilantes entre o capitalismo e o proletariado.

Estas cultivam a ilusão de resolver a luta contra o fascismo no terreno parlamentar, esquecendo que a natureza fundamental do governo fascista é a de uma ditadura armada, apesar de todos os adornos constitucionais que trata de aplicar à milícia nacional. Esta, por outro lado, não tem eliminado a ação das “esquadras” e da ilegalidade: o fascismo em sua verdadeira essência está constituído pelas forças armadas que operam diretamente por conta da plutocracia capitalista e dos setores agrários. Abater o fascismo significa em esmagar definitivamente estas forças, e isto não se pode conseguir senão no terreno da ação direta. Qualquer solução parlamentar resultará impotente. Qualquer que seja o caráter do governo que tal solução possa derivar, tratar da recomposição do governo de Mussolini ou da formação de um governo chamado democrático (o que por outro lado é bastante difícil), nenhuma garantia poderá ter a classe operária de que seus interesses e seus direitos mais elementares serão assegurados, ainda que nos limites permitidos em um Estado burguês e capitalista, enquanto aquelas forças não sejam eliminadas.

Para conseguir isto, é mister lutar contra aquelas no terreno em que é possível vencer seriamente, diga-se, no terreno da ação direta. Seria uma ingenuidade confiar esta tarefa ao Estado burguês, ainda que seja liberal e democrático, já que não vacilará em recorrer a sua ajuda no caso de não se converter numa síntese bastante forte para defender o privilégio da burguesia e manter submisso o proletariado.

De tudo isso deriva a conclusão de que uma oposição real ao fascismo pode ser levada somente pela classe operária. Os fatos demonstram quanto corresponde à realidade a posição assumida por nós na ocasião das eleições gerais, opondo à oposição constitucional a “oposição operária” como a única base real e eficaz para derrotar o fascismo. O fato de que as forças não operárias convergem na frente não altera nossa afirmação segundo a qual a classe operária é a única classe que pode e deve ser o guia dirigente nesta luta.

A classe operária deve encontrar, contudo, sua unidade na qual encontra toda a força necessária para enfrentar a luta. Por isso a proposta do Partido Comunista a todas as organizações proletárias para uma greve geral contra o fascismo, por isso nossa atitude frente aos impotentes choramingos social-democratas.